quarta-feira, 15 de maio de 2019

1.2 O SAGRADO FEMININO PARA TODOS – HISTÓRIA RESUMIDA



1.2  O SAGRADO FEMININO PARA TODOS -  PINCELADAS DE UMA LONGA  HISTÓRIA

   Por Lourdes Vanessa


Ao se falar em Sagrado como Feminino, subentende-se que haja a contraparte, que é o Sagrado Masculino. São faces complementares da mesma moeda, que é a totalidade energética de sustentação do nosso planeta. Vamos ver resumidamente como, ao longo da história, uma energia foi se sobrepondo à outra e por isso precisamos retomar o equilíbrio. O Sagrado Feminino está sendo resgatado por meio de uma reconexão com o saber feminino ancestral que permeia a humanidade em diferentes culturas desde a pré-história por todo planeta. Homens e mulheres se beneficiam com essa reconexão, por isso, essa vertente vem ganhando cada vez mais espaço.
Na organização social de comunidades muito antigas, o princípio feminino era associado à criação do mundo pela capacidade natural da mulher dar à luz novos seres. Essas comunidades pré-históricas não sabiam ainda que era o ato sexual que produzia a vida, de modo que havia um misticismo em volta desse processo que só a mulher poderia gerar em seu ventre.  Divindades cultuadas eram femininas. Alguns autores dizem que isso se devia ao receio do homem pelo desconhecido e outros, que as mulheres tinham participação central e era valorizada, inclusive na religião. A ligação de fatores da natureza como a lua, as marés e as plantações com o ciclo menstrual fazia parte das atenções sociais. As diversas formas de expressão da sensibilidade feminina em homens e mulheres eram respeitadas, como sonhos, visões e conexão com a natureza. Essa polaridade feminina da energia criadora do universo foi adorada em toda a Terra durante 30 mil anos! A grande deusa mãe era essa energia que tinha uma contraparte masculina que era o deus consorte (toda a criação tem essas duas polaridades). A representação da deusa era observada pelos povos em toda a natureza, pois todos os seus elementos criam sempre algo de que os humanos precisam: frutos, água, ar, fogo.
Datada do Paleolítico Superior (entre 24.000 e 22.000 anos atrás), uma estátua de 11cm da Vênus de Willendorf,  descoberta em em 1908, na Áustria, esculpida com seios fartos e um enorme ventre flácido, representa a fertilidade feminina e a valorização dada pelo homem pré-histórico à mulher como sagrada.



Réplica da Vênus de Willendorf
Obra e imagem de MatthiasKabel - CC BY 2.5, ttps://commons.wikimedia.org/
Avançando no tempo, na Antiguidade, historiadores afirmam ter restado ainda em Creta (uma ilha da Grécia), um último traço  de harmonia entre mulheres e homens no planeta, que participavam alegre e igualitariamente da vida social. A vida era pacífica, sem guerras agressivas ou cidades muradas, o padrão de vida das pessoas mais simples era tão elevado quanto o dos cidadãos nos palácios e havia comunhão ecológica com a natureza, considerada uma manifestação da Mãe do Universo, da Deusa! Além disso, é marcante a importância dos esportes na vida deles.  Tanto homens como mulheres jovens participavam de jogos sagrados juntos e confiavam a vida nas mãos uns dos outros em competições que incluíam, por exemplo, saltos mortais sobre touros! Isso distinguia a sociedade cretense do restante das civilizações antigas desenvolvidas, como em outras partes da Grécia e Roma, onde, aliás, a mulher já se fazia notar inferior socialmente ao homem. No campo, onde havia igualdade de serviços braçais, elas já tinham uma “dupla jornada”, cuidando ainda da casa e dos filhos.
Exatamente nesse ponto da Idade Média que o Sagrado Feminino liga-se ao primeiro lampejo de pensamento feminista. É complicada a associação do sagrado feminino com o feminismo devido ao alto grau de preconceito que esta palavra traz atualmente pela ignorância de seu real significado, gerando mal entendidos. Sendo que feminismo é diferente do chamado femismo, né? Femismo seria o oposto do machismo, ou seja, o pensamento de que uma vertente é superior à outra, o que não condiz com a principal ideia do feminismo, que seria a igualdade com respeito às diferenças. Homens e mulheres são feministas à medida que convivem, respeitando-se mutuamente em sua liberdade e autonomia, sem que ninguém seja infeliz apenas por coerções da sociedade. Aliás, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) feito em 41 países, divulgado em 2018, mostrou que os homens que moram em lugares com maior igualdade de gênero são também protegidos de estereótipos que prejudicam sua saúde, como atos de violência e hábitos nocivos. Enfim, foi verificado que o homem não briga mais na rua, correndo maior risco de morte violenta, consome mais álcool e cigarro, faz mais sexo sem proteção e corre maior risco de suicídio apenas por ser homem, mas por sofrer pressões sociais para fazer tudo isso!!! 


Bem, retomando a História, provavelmente pelo acúmulo de tarefas domésticas e no campo, as primeiras ideias feministas remetem à baixa idade média (1300-1500). Regine Pernoud, em seu livro “O Mito da Idade Média”, chega a mencionar que a ideia de inferioridade da mulher medieval é apenas um mito, pois no início desse período havia grande trânsito delas pelas esferas social e eclesiástica. Um exemplo disso é a escritora francesa de política e filosofia, Christine de Pisan (1364-1430) que escreveu, além de uma biografia de Joana D’Arc (1412-1431) e vários poemas, o livro “Cidade das Damas” em que menciona que a igualdade entre os sexos é natural e faz registros de vidas de mulheres exemplares, como a própria heroína da Guerra dos 100 anos e padroeira da França. Pela influência da Igreja Romana na Europa da Idade Média, costuma-se pensar que nessa época a mulher foi totalmente perseguida, no entanto, houve esses lampejos feministas no início. Porém, o outro lado opressivo que se intensificou mais tarde na Idade Média é digno de importante nota, pois a figura da mulher ligava-se também às ideias de práticas de feitiçaria e bruxaria, em virtude da dominação da Igreja que assim classificava as vivências dos povos pagãos dominados. Essas mesclas culturais parecem ser responsáveis pela população surtar, acusando as mulheres vistas como bruxas de serem responsáveis por calamidades naturais. Nesse período mais tardio, a Inquisição era uma forma de coibir a predominância cultural dos povos dominados. Quem não concordava em se converter às adaptações feitas pela Igreja Romana para sincretizar os povos conquistados, corria sério risco de ser punido na fogueira ou com  outras formas de sacrifícios que escondia planos de hegemonia cultural e religiosa, adentrando até a Idade Moderna (1453-1789).





Imagem de Wolfgang Claussen por Pixabay
Estátua de Joana D’arc, heroína da Guerra dos Cem anos na França, punida na fogueira da Inquisição

Além do mais, o imperialismo Romano, por meio de sua Igreja, impunha a conquista aos povos subjugados da mesma forma que os portugueses fizeram com o índio no Brasil e os espanhóis e ingleses com os nativos no restante da América: aliciando-os a desistirem de sua própria cultura e se converterem à nova religião dos conquistadores. Na região onde fica hoje Inglaterra e França, os nativos eram os celtas, que viviam em sua sociedade específica bem diferente do patriarcado romano. Na cultura celta, as mulheres ocupavam também lugar de destaque social, sendo elas as matriarcas responsáveis pela religião, as conhecedoras da cura e dos rituais. Elas escolhiam seus parceiros que iriam fecundá-las para gerar seus herdeiros em festividades com danças em volta da fogueira que, hoje, aparecem adaptadas como as Festas Juninas (que têm inclusive um santo casamenteiro, que faz o papel da Deusa e do Deus que indicava os consortes antigos)..
As mulheres celtas eram conhecedoras das ervas de cura, tanto mulheres como homens dessa cultura comunicavam-se naturalmente com os espíritos. Tradições como o Halloween, o Dia de Finados e de Todos os Santos advêm dessa cultura. Essas adaptações foram feitas porque esse povo nativo das terras antigas da Gália, entre a França e a Inglaterra, eram muito fiéis a suas tradições. O conquistador conseguiu "negociar" com os resistentes celtas que se convertessem à religião romana para não serem massacrados ou queimados em fogueiras. A "persuasão negociativa" consistia em serem mantidas as tradições de suas festividades, sem as quais não conseguiriam viver, mudando-se apenas levemente os nomes, mas mantendo-as na mesma época que correspondia a solstícios e equinócios celebrados pelos nativos. Esse povo se norteava pelos ciclos da natureza. Disfarçadamente, as mulheres celtas continuaram colocando seus conhecimentos à serviço da comunidade, usando suas ervas de cura, suas orações e benzimentos. No entanto, com receio de que essas práticas restaurassem a antiga religião, os romanos reprimiam isso duramente,  incitando a população a acusá-las de bruxaria e uma simples delação poderia levá-las à fogueira e a torturas escabrosas, como exemplo do que aconteceria a quem mais ousasse contrariar as normas impostas. Mas como poderia a população ficar contra essas mulheres que lhes auxiliavam e traziam a cura? Para que isso acontecesse, a igreja romana incutiu a ideia de que quem cura é só o deus dela e que quem usava as mulheres celtas para essas boas ações seria o demônio. Esse pensamento anulava totalmente a tradição celta de um deus e uma deusa que estavam presentes em cada erva, cada sopro do vento, cada luz do sol, cada faísca de fogo, cada pingo de água e unia o feminino e o masculino na   manifestação divina da criação pela natureza para cura e felicidade da humanidade. Essas tradições pagãs modificadas pelos romanos são as que seguimos até hoje, tanto nas festividades religiosas como na tendência de demonização de práticas alternativas de cura e saúde.


. Por Frédéric Vincent - Obra do próprio, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=146623
O monumento de Stonehenge, círculo sagrado de pedra nas Ilhas Britânicas com cerca de 5000 anos de idade, cuja construção foi atribuída ao povo celta

Na época do Renascimento (século XVII) a condição social da mulher retrocedeu ainda mais, havendo proibições de estudos e de várias profissões. O mundo mercantilista foi praticamente todo masculino. No entanto, a energia da Deusa sempre arrumou um jeito de não ser esquecida, ainda que por meio de simples fagulhas dela. O mito da criação, comum a judeus e cristãos, narra a moldagem de Eva (a primeira mulher para os cristãos, pois em sua narrativa foi excluída Lilith, que faz esse papel primevo para os judeus), a partir de uma costela do primeiro homem, Adão. Este é atingido pelo pecado original ao provar o fruto da  Árvore do Conhecimento oferecido por Eva, tornando-a, bem como a todas as mulheres depois dela, devedoras e culpadas por esse mal passo. Apesar disso, em 1854, o papa Pio IX decretou o dogma da Imaculada Conceição de Maria, sugerindo que ela “foi preservada e ficou imune de toda mancha do pecado original”. A energia feminina, ao menos assim, teve um lugar e não foi totalmente esquecida.

Gabriel Nunes Kroning/ Pixabay


Já faz muito tempo que vivemos sob uma religião patriarcal, que adora um Deus único, masculino e, no processo de expansão desse pensamento religioso, as mulheres foram perdendo espaço tanto na sociedade quanto no sacerdócio, chegando a ser completamente negadas e excluídas em algumas vertentes ou apenas simbolicamente representadas em outras. Com o passar do tempo, foram ficando em segundo plano a opinião e a vontade feminina. Sem ser ouvida durante muito tempo, a mulher aceitava passivamente e, aos poucos, é que foi retomando sua força para lutar pelo direito de igualdade, o que reiniciou nos séculos XVIII e XIX. A Revolução Industrial e, mais tarde, as guerras novamente fizeram as mulheres saírem de casa para empregos no mundo externo. Quando nos remontamos à origem moderna do movimento do sagrado feminino é inevitável citar a primeira onda do movimento feminista, no século XIX, com a publicação de ideias de uma deidade feminina por Matilda Joslyn Gage   e Elizabeth Cady Stanton (norte-americanas ativistas, abolicionistas e defensoras voto universal). Faz-se necessário remontar também à antropologia dessa época, com Johann Jakob Bachofen, pesquisador das culturas pré-históricas que têm uma deusa matriarcal. Depois desse embalo inicial, mais tardiamente, nas décadas de 60 e 70 do século XX, essas ideias puderam ser mais desenvolvidas com a segunda onda feminista que se dedicou ao estudo da história da religião.





Elizabeth Cady Stanton




Matilda Joslyn Gage

Assim, a luta pelos direitos femininos foi intensificada e se estendeu pelo século XX, com auge na década de 1960. Essa época foi revolucionária em seus costumes e os movimentos feministas mais importantes surgem com novos nomes como francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) e a norte-americana Betty Friedan (1921-2006), que merecem um capítulo a parte, bem mais longo do que as linhas deste resumo permitem.
Finalmente, chegamos no século XXI e, como a energia masculina ficou muito forte nos últimos séculos dominados pelas ideias patriarcais na organização social e política, há uma necessidade premente de abertura, como nunca antes, ao Sagrado Feminino, que é a retomada da mulher da sua posição junto ao homem como igualmente importante perante as energias da natureza. A mulher paulatinamente vai redescobrindo seu poder de criadora, inclusive de sua própria vida!
O movimento do Sagrado Feminino reúne Círculos de Mulheres de diferentes culturas e religiões para o aprendizado de como romper vínculos com regras sem sentido pré-estabelecidas socialmente e com padrões de beleza impostos pela publicidade. Assim, valorizam mais seus ciclos naturais: menstruar, gestar, parir, amamentar, envelhecer. Aprofundando no autoconhecimento, cicatrizam em si as próprias feridas bem como as de todas as gerações anteriores, aprendendo a amar o próximo sem dependência e a si mesmas incondicionalmente.  Também há o incentivo para superar a ideia de competição entre elas e agir no que chamam de “sororidade”, ou seja, de grande irmandade em que uma estende a mão, o ouvido, o colo e os conselhos às outras. Uma saída da supremacia patriarcal começa a se desenhar e a mulher retoma o principal dom que o patriarcado subtraiu de sua mente: a autoestima!
Para saber mais sobre o Sagrado Feminino  e Masculino em nós, acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/04/o-sagrado-feminino-para-pessoas-comuns.html

O outro é apenas um espelho que reflete o que precisa ser trabalhado por nós mesmos! Assim, precisamos voltar para nosso interior quando nos deparamos com  questões em que sentimos que há necessidade de equilibrar as energias femininas e masculinas em nós: dificuldades de relacionamentos (familiar, profissional, sexual. etc.), timidez, culpa, bloqueios, travas, entre outras manifestações que exijam autocura.  Essa é uma técnica rápida (leva minutos) que pode ajudar a curar ou encontrar as respostas que estão em nosso interior:"  Pode ser repetida quantas vezes necessário ao longo do dia ou todo dia, até que se sinta os resultados  e realização dos objetivos 


Para essa  "Mentalização para a Harmonização Total do Sagrado Masculino e Feminino em todos nós" acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/04/mentalizacao-para-harmonizacao-total-do.html


Para ler sobre A TRANSIÇÃO PLANETÁRIA E A TRANSIÇÃO INDIVIDUAL acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/05/a-transicao-planetaria-e-transicao.html

Para ler o Manifesto mais lindo a favor do Equilíbrio de Energia no Planeta, "A Carta do Chefe Seatle", acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/05/stylefont-size-0.html

 VOCÊ SABIA QUE EXISTE UMA TÉCNICA CIENTÍFICA PARA TREINAR A BONDADE E COMPAIXÃO EM CRIANÇAS E JOVENS? Acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/05/voce-sabia-que-existe-uma-tecnica.html

Primeira Imagem: https://pixabay.com/pt/photos/prado-prado-verde-prado-flor-grass-2401931/

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