1.2 O SAGRADO FEMININO PARA TODOS - PINCELADAS DE UMA LONGA HISTÓRIA
Por Lourdes Vanessa
Ao se falar em Sagrado como Feminino,
subentende-se que haja a contraparte, que é o Sagrado Masculino. São faces
complementares da mesma moeda, que é a totalidade energética de sustentação do
nosso planeta. Vamos ver resumidamente como, ao longo da história, uma energia
foi se sobrepondo à outra e por isso precisamos retomar o equilíbrio. O Sagrado
Feminino está sendo resgatado por meio de uma reconexão com o saber feminino ancestral
que permeia a humanidade em diferentes culturas desde a pré-história por todo
planeta. Homens e mulheres se beneficiam com essa reconexão, por isso, essa
vertente vem ganhando cada vez mais espaço.
Na organização social de comunidades muito
antigas, o princípio feminino era associado à criação do mundo
pela capacidade natural da mulher dar à luz novos seres. Essas comunidades pré-históricas não sabiam ainda que
era o ato sexual que produzia a vida, de modo que havia um misticismo em volta
desse processo que só a mulher poderia gerar em seu ventre. Divindades
cultuadas eram femininas. Alguns autores dizem que isso se devia ao receio do
homem pelo desconhecido e outros, que as mulheres tinham participação central e
era valorizada, inclusive na religião. A ligação de fatores da natureza como a
lua, as marés e as plantações com o ciclo menstrual fazia parte das atenções
sociais. As diversas formas de expressão da sensibilidade feminina em homens e
mulheres eram respeitadas, como sonhos, visões e conexão com a natureza. Essa
polaridade feminina da energia criadora do universo foi adorada em toda a Terra
durante 30 mil anos! A grande deusa mãe era essa energia que tinha uma
contraparte masculina que era o deus consorte (toda a criação tem essas duas
polaridades). A representação da deusa era observada pelos povos em toda a
natureza, pois todos os seus elementos criam sempre algo de que os humanos
precisam: frutos, água, ar, fogo.
Datada
do Paleolítico Superior (entre 24.000 e 22.000 anos atrás), uma estátua de 11cm
da Vênus de Willendorf, descoberta em em 1908, na Áustria, esculpida
com seios fartos e um enorme ventre flácido, representa a fertilidade feminina
e a valorização dada pelo homem pré-histórico à mulher como sagrada.
Réplica da Vênus de Willendorf
Obra
e imagem de MatthiasKabel - CC BY 2.5, ttps://commons.wikimedia.org/
Avançando
no tempo, na Antiguidade, historiadores afirmam ter restado ainda em Creta (uma ilha da
Grécia), um último traço de harmonia entre mulheres e homens no
planeta, que participavam alegre e igualitariamente da vida social. A vida era
pacífica, sem guerras agressivas ou cidades muradas, o padrão de vida das
pessoas mais simples era tão elevado quanto o dos cidadãos nos palácios e havia
comunhão ecológica com a natureza, considerada uma manifestação da Mãe do
Universo, da Deusa! Além disso, é marcante a importância dos esportes na vida deles. Tanto homens como mulheres jovens participavam
de jogos sagrados juntos e confiavam a vida nas mãos uns dos outros em
competições que incluíam, por exemplo, saltos mortais sobre touros! Isso
distinguia a sociedade cretense do restante das civilizações antigas
desenvolvidas, como em outras partes da Grécia e Roma, onde, aliás, a mulher já
se fazia notar inferior socialmente ao homem. No campo, onde havia igualdade de
serviços braçais, elas já tinham uma “dupla jornada”, cuidando ainda da casa e
dos filhos.
Exatamente nesse ponto da Idade
Média que o Sagrado Feminino liga-se ao primeiro lampejo de pensamento
feminista. É complicada a
associação do sagrado feminino com o feminismo devido ao alto grau de
preconceito que esta palavra traz atualmente pela ignorância de seu real
significado, gerando mal entendidos. Sendo que feminismo é diferente do chamado
femismo, né? Femismo seria o oposto do machismo, ou seja, o pensamento de que
uma vertente é superior à outra, o que não condiz com a principal ideia do
feminismo, que seria a igualdade com respeito às diferenças. Homens e mulheres são feministas à medida que convivem,
respeitando-se mutuamente em sua liberdade e autonomia, sem que ninguém seja
infeliz apenas por coerções da sociedade. Aliás, um estudo da Organização
Mundial da Saúde (OMS) feito em 41 países, divulgado em 2018, mostrou que os
homens que moram em lugares com maior igualdade de gênero são também protegidos
de estereótipos que prejudicam sua saúde, como atos de violência e hábitos
nocivos. Enfim, foi verificado que o homem não briga mais na rua, correndo
maior risco de morte violenta, consome mais álcool e cigarro, faz mais sexo sem
proteção e corre maior risco de suicídio apenas por ser homem, mas por sofrer
pressões sociais para fazer tudo isso!!!
Bem, retomando a História, provavelmente pelo acúmulo de
tarefas domésticas e no campo, as primeiras ideias feministas remetem à baixa
idade média (1300-1500). Regine Pernoud, em seu livro “O Mito da Idade Média”, chega
a mencionar que a ideia de inferioridade da mulher medieval é apenas um mito,
pois no início desse período havia grande trânsito delas pelas esferas social e
eclesiástica. Um exemplo disso é a escritora francesa de política e filosofia, Christine
de Pisan (1364-1430) que escreveu, além de uma biografia de Joana D’Arc
(1412-1431) e vários poemas, o livro “Cidade das Damas” em que menciona que a
igualdade entre os sexos é natural e faz registros de vidas de mulheres
exemplares, como a própria heroína da Guerra dos 100 anos e padroeira da
França. Pela influência da Igreja Romana na Europa da Idade Média, costuma-se
pensar que nessa época a mulher foi totalmente perseguida, no entanto, houve
esses lampejos feministas no início. Porém, o outro lado opressivo que se
intensificou mais tarde na Idade Média é digno de importante nota, pois a
figura da mulher ligava-se também às ideias de práticas de feitiçaria e
bruxaria, em virtude da dominação da Igreja que assim classificava as vivências
dos povos pagãos dominados. Essas mesclas culturais parecem ser responsáveis
pela população surtar, acusando as mulheres vistas como bruxas de serem
responsáveis por calamidades naturais. Nesse período mais tardio, a Inquisição
era uma forma de coibir a predominância cultural dos povos dominados. Quem não
concordava em se converter às adaptações feitas pela Igreja Romana para
sincretizar os povos conquistados, corria sério risco de ser punido na fogueira
ou com outras formas de sacrifícios que escondia planos de hegemonia cultural e
religiosa, adentrando até a Idade Moderna (1453-1789).
Estátua de Joana D’arc, heroína da Guerra dos Cem anos
na França, punida na fogueira da Inquisição
Além
do mais, o imperialismo Romano, por meio de sua Igreja, impunha a conquista aos
povos subjugados da mesma forma que os portugueses fizeram com o índio no
Brasil e os espanhóis e ingleses com os nativos no restante da América:
aliciando-os a desistirem de sua própria cultura e se converterem à nova
religião dos conquistadores. Na região onde fica hoje Inglaterra e França, os
nativos eram os celtas, que viviam em sua sociedade específica bem diferente do
patriarcado romano. Na cultura celta, as mulheres ocupavam também lugar de
destaque social, sendo elas as matriarcas responsáveis pela religião, as
conhecedoras da cura e dos rituais. Elas escolhiam seus parceiros que iriam
fecundá-las para gerar seus herdeiros em festividades com danças em volta da
fogueira que, hoje, aparecem adaptadas como as Festas Juninas (que têm
inclusive um santo casamenteiro, que faz o papel da Deusa e do Deus que
indicava os consortes antigos)..
As
mulheres celtas eram conhecedoras das ervas de cura, tanto mulheres como homens
dessa cultura comunicavam-se naturalmente com os espíritos. Tradições como o
Halloween, o Dia de Finados e de Todos os Santos advêm dessa cultura. Essas
adaptações foram feitas porque esse povo nativo das terras antigas da Gália, entre a França e a Inglaterra, eram muito fiéis a suas tradições. O conquistador
conseguiu "negociar" com os resistentes celtas que se convertessem à religião romana para não serem massacrados
ou queimados em fogueiras. A "persuasão negociativa" consistia em serem mantidas
as tradições de suas festividades, sem as quais não conseguiriam viver,
mudando-se apenas levemente os nomes, mas mantendo-as na mesma época que
correspondia a solstícios e equinócios celebrados pelos nativos. Esse povo se
norteava pelos ciclos da natureza. Disfarçadamente, as mulheres celtas
continuaram colocando seus conhecimentos à serviço da comunidade, usando suas
ervas de cura, suas orações e benzimentos. No entanto, com receio de que essas
práticas restaurassem a antiga religião, os romanos reprimiam isso duramente, incitando a população a acusá-las de bruxaria
e uma simples delação poderia levá-las à fogueira e a torturas escabrosas, como
exemplo do que aconteceria a quem mais ousasse contrariar as normas impostas. Mas como
poderia a população ficar contra essas mulheres que lhes auxiliavam e traziam a
cura? Para que isso acontecesse, a igreja romana incutiu a ideia de que quem
cura é só o deus dela e que quem usava as mulheres celtas para essas boas ações
seria o demônio. Esse pensamento anulava totalmente a tradição celta de um deus e uma deusa
que estavam presentes em cada erva, cada sopro do vento, cada luz do sol, cada
faísca de fogo, cada pingo de água e unia o feminino e o masculino na manifestação divina da criação pela natureza
para cura e felicidade da humanidade. Essas tradições pagãs modificadas pelos
romanos são as que seguimos até hoje, tanto nas festividades religiosas como na
tendência de demonização de práticas alternativas de cura e saúde.
. Por Frédéric
Vincent - Obra do próprio, CC BY-SA 2.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=146623
O monumento de Stonehenge,
círculo sagrado de pedra nas Ilhas Britânicas com cerca de 5000 anos de idade,
cuja construção foi atribuída ao povo celta
Na
época do Renascimento (século XVII) a condição social da mulher retrocedeu ainda
mais, havendo proibições de estudos e de várias profissões. O mundo
mercantilista foi praticamente todo masculino. No entanto, a energia da Deusa
sempre arrumou um jeito de não ser esquecida, ainda que por meio de simples
fagulhas dela. O mito
da criação, comum a judeus e cristãos, narra a moldagem de Eva (a primeira
mulher para os cristãos, pois em sua narrativa foi excluída Lilith, que faz
esse papel primevo para os judeus), a partir de uma costela do primeiro homem,
Adão. Este é atingido pelo pecado original ao provar o fruto da Árvore do Conhecimento oferecido por Eva,
tornando-a, bem como a todas as mulheres depois dela, devedoras e culpadas por
esse mal passo. Apesar disso, em 1854, o
papa Pio IX decretou o dogma da Imaculada Conceição de Maria, sugerindo que ela
“foi preservada e ficou imune de toda mancha do pecado original”. A energia feminina,
ao menos assim, teve um lugar e não foi totalmente esquecida.
Já faz muito tempo que
vivemos sob uma religião patriarcal, que adora um Deus único, masculino e, no
processo de expansão desse pensamento religioso, as mulheres foram perdendo
espaço tanto na sociedade quanto no sacerdócio, chegando a ser completamente
negadas e excluídas em algumas vertentes ou apenas simbolicamente representadas em outras. Com o
passar do tempo, foram ficando em segundo plano a opinião e a vontade feminina.
Sem ser ouvida durante muito tempo, a mulher aceitava passivamente e, aos
poucos, é que foi retomando sua força para lutar pelo direito de igualdade, o
que reiniciou nos séculos XVIII e XIX. A Revolução Industrial
e, mais tarde, as guerras novamente fizeram as mulheres saírem de casa para
empregos no mundo externo. Quando
nos remontamos à origem moderna do movimento do sagrado feminino é inevitável
citar a primeira onda do movimento feminista, no século XIX, com a publicação
de ideias de uma deidade feminina por Matilda Joslyn
Gage e Elizabeth Cady Stanton
(norte-americanas ativistas, abolicionistas e defensoras voto universal). Faz-se
necessário remontar também à antropologia dessa época, com Johann Jakob
Bachofen, pesquisador das culturas pré-históricas que têm uma
deusa matriarcal. Depois desse embalo inicial, mais tardiamente, nas décadas de
60 e 70 do século XX, essas ideias puderam ser mais desenvolvidas com a segunda
onda feminista que se dedicou ao estudo da história da religião.
Assim, a luta pelos direitos femininos foi intensificada e se estendeu pelo século XX, com auge na década de 1960. Essa época foi revolucionária em seus costumes e os movimentos feministas mais importantes surgem com novos nomes como francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) e a norte-americana Betty Friedan (1921-2006), que merecem um capítulo a parte, bem mais longo do que as linhas deste resumo permitem.
Finalmente, chegamos no século
XXI e, como a energia masculina ficou muito forte
nos últimos séculos dominados pelas ideias patriarcais na organização social e
política, há uma necessidade premente de abertura, como nunca antes, ao Sagrado
Feminino, que é a retomada da mulher da sua posição junto ao homem como
igualmente importante perante as energias da natureza. A mulher paulatinamente
vai redescobrindo seu poder de criadora, inclusive de sua própria vida!
O movimento do Sagrado Feminino reúne
Círculos de Mulheres de diferentes culturas e religiões para o aprendizado de como romper vínculos com regras sem sentido pré-estabelecidas socialmente e com padrões de beleza
impostos pela publicidade. Assim, valorizam mais seus ciclos naturais: menstruar,
gestar, parir, amamentar, envelhecer. Aprofundando no autoconhecimento, cicatrizam
em si as próprias feridas bem como as de todas as gerações anteriores,
aprendendo a amar o próximo sem dependência e a si mesmas incondicionalmente. Também há o
incentivo para superar a ideia de competição entre elas e agir no que chamam de “sororidade”,
ou seja, de grande irmandade em que uma estende a mão, o ouvido, o colo e os
conselhos às outras. Uma saída
da supremacia patriarcal começa a se desenhar e a mulher retoma o principal dom
que o patriarcado subtraiu de sua mente: a autoestima!
Para saber mais sobre o Sagrado Feminino e Masculino em nós, acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/04/o-sagrado-feminino-para-pessoas-comuns.htmlO outro é apenas um espelho que reflete o que precisa ser trabalhado por nós mesmos! Assim, precisamos voltar para nosso interior quando nos deparamos com questões em que sentimos que há necessidade de equilibrar as energias femininas e masculinas em nós: dificuldades de relacionamentos (familiar, profissional, sexual. etc.), timidez, culpa, bloqueios, travas, entre outras manifestações que exijam autocura. Essa é uma técnica rápida (leva minutos) que pode ajudar a curar ou encontrar as respostas que estão em nosso interior:" Pode ser repetida quantas vezes necessário ao longo do dia ou todo dia, até que se sinta os resultados e realização dos objetivos
Para essa "Mentalização para a Harmonização Total do Sagrado Masculino e Feminino em todos nós" acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/04/mentalizacao-para-harmonizacao-total-do.html
Para ler sobre A TRANSIÇÃO PLANETÁRIA E A TRANSIÇÃO INDIVIDUAL acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/05/a-transicao-planetaria-e-transicao.html
Para ler o Manifesto mais lindo a favor do Equilíbrio de Energia no Planeta, "A Carta do Chefe Seatle", acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/05/stylefont-size-0.html
VOCÊ SABIA QUE EXISTE UMA TÉCNICA CIENTÍFICA PARA TREINAR A BONDADE E COMPAIXÃO EM CRIANÇAS E JOVENS? Acesse: https://insightvocepordentro.blogspot.com/2019/05/voce-sabia-que-existe-uma-tecnica.html
Primeira Imagem: https://pixabay.com/pt/photos/prado-prado-verde-prado-flor-grass-2401931/
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